O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


sábado, 30 de junho de 2012

Corpo de Garoto de 15 anos, homossexual, torturado e assassinado a pauladas, com olhos furados e EMPALADO é encontrado em Volta Redonda no dia da Audiência Pública da Cura Gay


No Dia do Orgulho Gay o corpo de um garoto, Lucas Ribeiro Pimentel, de apenas 15 anos de idade, homossexual assumido, foi encontrado morto com sinais de tortura. Foi assassinado com pauladas, empalado e olhos furados em Volta Redonda 

TORTURA numa CRIANÇA de 15 anos!

Motivo? homofobia.

Dúvida? Não tenho. O menino era homossexual e foi EMPALADO.

Lucas Ribeiro Pimentel
Vamos deixar claro para quem não associa ‘o nome à pessoa’ que EMPALADO quer dizer, em palavras claras, punição corporal antiga inflingida ao condenado, a qual consistia em espetar-lhe, pelo ânus, uma estaca deixando-o dessa maneira até sua morte conforme Hoauiss.

Além de empalado, como já dito, teve os olhos furados e como até recomendam alguns parlamentares, levou um couro, ou seja, pauladas, neste caso, até a morte.

A descoberta dessa barbárie foi numa data “especial”. Dia que se realizava na Câmara de Deputados uma audiência pública feita para discutir o projeto de decreto legislativo 234/11, conhecido como projeto de Cura Gay, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, em favor dos psicólogos evangélicos.

A data desta audiência pública da Cura Gay já foi uma escancarada provocação da bancada religiosa, uma vez que é o dia do orgulho gay por conta do levante em Stonewall.

A pergunta que não quer se calar é: quem é mesmo que precisa de cura?

Essa fala da homossexualidade desviante, anormal, doentia, pecaminosa que precisa levar couro ou ser curada é que leva a ocorrer barbáries como essa. Pessoas perversas e não esclarecidas se comportam com tal violência homofóbica porque avocam para si o poder e liberdade de externar a punição da qual se sentem autorizadas por discursos dos homofóbicos que já ouviu. Alguém consegue não enxergar isto?!

Uma criança de 15 anos torturada que é assassinado com uma estaca no ânus e tem os olhos furados porque existem pessoas que insistem em difundir o preconceito é algo que realmente me causa nojo e cria sentimentos nada cristãos !

Será que suas consciências não doem nenhum pouquinho quando sai uma notícia como está, por mais ódio que tenham de gays, seja em nome do “pecado” ou  “doença”, como preferirem, atribuído ao gay?

Não vi ainda nenhum pronunciamento oficial do poder público dando conta ou alguma satisfação deste caso horroroso. Cadê as autoridades? SUPERDir? OAB? Comissão de Direitos Humanos? Comissão da Defesa da Criança e Adolescente?

É tipo morreu, enterra e vamos ao próximo da fila?!  

sexta-feira, 29 de junho de 2012

CEDS RIO: VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NÃO SERÃO INVISÍVEIS



O Estado do Rio de Janeiro foi o precursor ao incluir a categoria homofobia nos registros de ocorrência das delegacias. Único estado da federação que assim procede. No resto do país dependemos do exaustivo trabalho realizado pelo Luiz Mott do Grupo Gay Bahia.

No entanto somente hoje acabo de descobrir que nem mesmo no estado do Rio de Janeiro são TODAS as delegacias que possuíam essa possibilidade, apesar do anúncio no ano de 2009 que a partir do dia 1º de junho passaria a registrar os casos de crimes de homofobia nas delegacias, tornando o Rio o primeiro estado do país a ter dados oficiais destes eventos. Para confirmar essa surpreendente notícia, que não rompe com  mérito do estado, busquei  exaustivamente a norma que estabeleceu que as delegacias tivessem este registro da homofobia, mas foi um trabalho sem sucesso. Essa lei/decreto/portaria/resolução é um verdadeiro mistério. 

Portanto, o número de casos de agressões aos homossexuais já poderia ser maior que aqueles relatados oficialmente pelo governo do estado do Rio de Janeiro, pois apenas as ‘Delegacias Legais’ registram ocorrências tipificadas por motivos de homofobia, nas demais unidades, os episódios de violência são registrados como agressão física, sem a mencionada especificação.

Mas ainda que assim não fosse, como muito bem salientado pela chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, muitas pessoas que são vítimas de homofobia não registram o caso na delegacia, o que faz aumentar - ainda mais - a subnotificação. O receio dos próprios LGBT de procurarem os serviços da polícia, nem sempre bem avaliada pelos usuários, é um fato incontroverso.  

Pois bem, pelo menos na cidade do Rio de Janeiro, novamente precursora no país na defesa do cidadão LGBT (como ocorrido com a Lei 2475/96, primeira cidade a proibir a discriminação aos gays no comércio e serviços públicos), esta imprecisão de números tende a diminuir.

A Prefeitura do Rio, através da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS), lançou um conjunto de ações para combater a homofobia no município do Rio de Janeiro em comemoração ao Dia Mundial da Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), celebrado em 28 de junho.

Na ocasião, o prefeito Eduardo Paes assinou decreto que torna obrigatório o preenchimento de formulário específico em toda rede de saúde para a notificação compulsória nas ocorrências de atendimento a casos de violência motivados por homofobia, dependendo anuência da vítima.

Tal medida é pioneira no país e será efetivada não só na rede hospitalar municipal, mas também na particular.

Os formulários preenchidos vão ser entregues à Secretaria Municipal de Saúde, que por sua vez vai encaminhá-los à coordenadoria especial da diversidade sexual – CEDS-Rio. Seguindo o exemplo que já ocorre com a violência da mulher.

Foi uma demanda do coordenador Carlos Tufvesson que soube da existência de violência motivada por homofobia que jamais foi notificada a delegacia policial e que sua vítima não teve qualquer apoio do poder público, até porque não tinha condições físicas para solicitar ajuda.

No dia do Stonewall a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro garantiu que os gays, vítimas da homofobia, não serão invisíveis.


Fontes:
http://www.comunidadesegura.org/pt-br/MATERIA-seguranca-publica-sem-homofobia 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Cultura da Homofobia Mata: Irmãos abraçados na Bahia são confundidos como casal gay, um deles é brutalmente assassinado e o outro hospitalizado



Existem pessoas que tem coragem de dizer que homofobia não existe ou simplesmente enaltece a homofobia.


Magno Malta: O Brasil não é homofóbico.”


Pois bem, para estas pessoas e outras que dizem que não existe homofobia ou recomenda um “couro”, segue um novo crime homofóbico, entre tantos que fez o Brasil estar no topo mundial de crimes de ódio motivado pela homofobia.

José Leonardo da Silva, 22 anos, não imaginava que caminhar abraçado com seu irmão, José Leandro, despertaria a ira de outros homens homofóbicos. Os irmãos foram espancados por cerca de oito pessoas na madrugada do último domingo (24) quando voltavam do Camaforró, na cidade de Camaçari (Grande Salvador). Leonardo morreu no local ao receber várias pedradas na cabeça, enquanto Leandro foi levado ao Hospital Geral de Camaçari com um afundamento na face.

Segundo a delegada da 18ª DT, Maria Tereza Santos Silva, tratou-se de um crime de homofobia.

A delegada relata que o grupo desceu de um micro-ônibus ao ver os gêmeos abraçados e iniciou as agressões. Pensaram que eles fossem um casal homossexual.

Após as investigações, ela indiciou três das sete pessoas conduzidas para a delegacia. Douglas dos Santos Estrela, 19; Adriano Santos Lopes da Silva, 21; e Adan Jorge Araújo Benevides, 22; foram autuados em flagrante por homicídio qualificado (por motivo fútil) e formação de quadrilha. Diogo dos Santos Estrela, irmão de Douglas, está foragido.

Adan e Douglas - assassino confesso de José Leonardo
Segundo a delegada Maria Tereza, durante as agressões, Leonardo reagiu, conseguiu tomar a faca da mão de Diogo e saiu caminhando. Ao ver Leonardo com a faca que pertencia a Diogo, Douglas perguntou onde estava seu irmão.

- Leonardo respondeu que não sabia. Douglas pediu para ele largar a faca e conversar. Depois, Adriano meteu um paralelepípedo na cabeça de Leonardo e Douglas pegou a mesma pedra e golpeou várias vezes a cabeça da vítima - relata a delegada Maria Tereza. Adan foi o que desferiu os socos que provocaram o afundamento na face de Leandro, que sobreviveu.

Para a delegada Maria Tereza, o crime contra os gêmeos mostra um problema social.

Em julho do ano passado, um caso semelhante ocorreu no interior de São Paulo, na cidade de São João da Boa Vista. Pai e filho foram espancados em uma feira agropecuária porque estavam abraçados, assistindo às apresentações, quando um grupo com sete homens se aproximou e perguntou se eles eram gays.

O pai explicou que não, e o grupo foi embora, mas voltou logo depois e começou uma sessão de espancamento contra os dois.

De onde surge e qual a razão destes crimes?

Queriam dinheiro ou bens que pertencesse a outra pessoa? 
Não.


Desejavam vantagens sexuais?
Não.


O crime foi praticado por um vício
Não.

A resposta é assustadora. Trata-se de um crime de ódio, motivado pelo preconceito de alguém que seleciona aquela vítima porque ela pertence a um determinado segmento.

Mas esta resposta não basta. Também é importante tentar entender como surgiu o ódio. De onde ele veio. Nenhuma criança nasce com preconceito, ela aprende a ser preconceituosa. De onde veio o ódio destes agressores aos homossexuais? O que o fez não só ser preconceituosos, mas chegar ao ponto de tirar uma vida?

O Deputado Federal Jean Wyllys, ressalvando a existência de exceções, sugere parte dos possíveis responsáveis.

JeanWyllys – “A minha rota de colisão com esses padres e pastores é, justamente, pelo incentivo que eles fazem. Ou seja, usam das concessões públicas de difusão dos canais de TV e rádio para discursar contra a homossexualidade, incentivando e espalhando uma onda de violência contra os homossexuais no Brasil. Disse e reafirmo, esses padres e pastores vem a público, através do rádio, da TV e em jornais impressos, alegando que o homossexual é abominável e justificando a violência praticada contras essa significativa parcela da sociedade. Eles não podem se eximir da cumplicidade desses crimes”.

Concordo com ele que possa existir cumplicidade e responsabilidade. Pessoas que têm aversão aos homossexuais e são formadoras de opinião deveriam ser investigadas, processadas e responsabilizadas quando suas palavras e atos ajudarem, seja da maneira que for, para a ocorrência de crimes de violência contra homossexuais.

Sugiro que jornalistas, delegados, promotores públicos, inclusive, defensores públicos questionem aos criminosos qual o acesso e a fonte de informações negativas que os mesmos tiveram em relação aos homossexuais, e tentem descobrir o papel e peso que tiveram para influenciar na concretização da violência praticada. Se existir conexão entre o discurso de um homofóbico ao crime, no qual reste configurado que aquele que realizou o ato de execução do crime foi instigado ou induzido por outrem (o homofóbico), eventualmente este também poderá responder criminalmente pelos seus atos.

O Artigo 286 do Código Penal prevê como – Incitamento ao crime: “Incitar, publicamente, a prática de crime”. Mas é necessário que a incitação tenha sido com consciência e vontade (intencional) para que a coletividade praticasse um crime determinado (xingar ou espancar ou matar, por exemplo), portanto, dolosamente e desde que não seja de forma genérica. Por sua vez, a apologia ao crime é outro crime previsto no artigo 287 do código penal e ocorre quando se faz, publicamente, apologia de autor de crime ou de fato criminoso. Fazer apologia significa exaltar, enaltecer, elogiar ou discurso de defesa. Por exemplo, alguém elogiar o crime praticado pelos rapazes ou o próprio assassino por ter matado a vítima por ser homossexual.

O crime de incitação ou crime de apologia ao crime - crimes contra a paz pública -, acima mencionado, nada tem a ver com a figura da “participação” em crime punível no código penal. São coisas distintas.

A participação no crime, que caracteriza um concurso de pessoas, fica configurada pela cooperação do homofóbico com o executor do crime - de forma moral -, por ter induzido (criar a ideia, plantar a ideia na mente do autor) ou instigado (estimular a ideia já existente, reforçando o propósito).

Mesmo a participação de menor importância ou a de cooperação dolosamente distinta também são punidas pelo crime.

A participação de menor importância é aquela considerada secundária, que, embora tenha concorrido para o crime, não foi decisiva para a realização do mesmo. Atualmente é entendida como uma causa de redução de pena, sendo que o quantum a ser diminuído pode variar de 1/6 a 1/3, na fase de dosimetria da pena nos termos do art. 29, §1º, do Código Penal - CP.

A cooperação dolosamente distinta, prevista no art. 29, §1º, do CP, consiste na divergência de vontade do partícipe e a conduta realizada pelo autor do crime. Assim, ocorre um desvio subjetivo, porque o partícipe pretende um crime menos grave do que aquele que o autor pratica efetivamente. Ex: Foi combinado entre os envolvidos o crime de ofender a honra de um homossexual, mas, durante a execução, o autor usou violência, tornando o crime contra honra em homicídio. Neste caso, se o crime mais grave não era previsível, o agente responde pelo menos grave. Porém, se o mais grave era previsível, o agente responde pelo mais grave, mais aumento de pena até a metade.

Ressalto que, isto independe da existência do ‘crime de homofobia’ ainda não previsto no código penal, e mesmo que homofobia fosse crime, de qualquer forma, essa ‘participação’ mereceria a mesma atenção. Com ou sem crime de homofobia, aquele que colaborou para que o crime (seja qual for, honra, lesão corporal, vida etc) deve também responder pelos seus atos.

Por isso disse e repito a minha sugestão para que jornalistas, delegados, promotores públicos, inclusive, defensores públicos questionem aos criminosos qual o acesso e a fonte de informações negativas que os mesmos tiveram em relação aos homossexuais, e tentem descobrir o papel e peso que elas tiveram para influenciar na violência ocorrida. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Federico García Lorca: "Ele fez mais dano com a caneta que outros fizeram com a arma"


 “Olha à direita e à esquerda do tempo, e que o teu coração aprenda a estar tranquilo"

Duas frases ajudam a entender Lorca.

"Ele fez mais dano com a caneta que outros fizeram com a arma" foi uma frase dita por terceiros que foi perpetuada como umas das melhores definições daquilo que Lorca representou para as pessoas à sua época.

Já a segunda, “olha à direita e à esquerda do tempo, e que o teu coração aprenda a estar tranquilo”, proferida por ele próprio, é um pensamento que transmite paz, sugere paciência e equilíbrio, vindo de um poeta imortalizado pela história que, contradizendo a mensagem, possuía sentimentos fortes e posições extremamente firmes, que usou toda sua genialidade e influência para ser um ativista e revolucionário em seu país, o que o levou ao seu próprio assassinato.

No entanto, este mesmo pensamento é perfeitamente condizente com a postura que adotou durante sua vida em relação na maneira pela qual convivia com sua homossexualidade. Esta mensagem era, antes de tudo, para ele próprio amansar seu coração.

Apesar do seu perfil de militância, nunca ergueu 'bandeira' em favor da cidadania LGBT, apesar de defender em seus textos as minorias (inclusive, homossexual) e jamais ter criado relações heterossexuais de fachada para manter as aparências, como era comum aquela época.

Federico Garcia Lorca é um ícone homossexual muito mais por conta da sua história pessoal que pelas suas performances políticas e imensa genialidade literária. Ele rarissimamente atuou de maneira intencional para ser, mas também não fez nada para deixar de ser.

Neste contexto, justamente por conta de sua história de vida, Federico Lorca se aproxima muito mais de cada um de nós. Sua história pessoal é fascinante. Sua sexualidade, mesmo evidenciada pela sua fama e oprimida pela sociedade machista e intolerante, acabou chamando tanta atenção quanto os seus grandes feitos. É essa história que realmente interessa aqui.

Mas para isto, temos que saber um pouco da vida de Federico Garcia Lorca, quem era, onde nasceu, em que tempo viveu e quem eram seus amigos para entendermos o quanto relevante foi sua vida pessoal.

Federico García Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, em 05 de junho de 1898. Foi um poeta e dramaturgo espanhol, também lembrado como um pintor, pianista e compositor. Nascido em uma família de proprietários de pequenas terras, mas rico, na aldeia de Fuente Vaqueros, Granada. Foi uma criança precoce, em 1909, seu pai levou a família para a cidade de Granada, na Andaluzia, onde com o tempo ele se envolveu profundamente nos círculos artísticos. Sua primeira coleção de peças em prosa, Paisajes Impresiones, foi publicado em 1918, para aclamação local, mas pouco sucesso comercial.

1912. Família. Abaixo Vicenta e Don Federico. Acima, da esquerda, Federico e irmãos Concha e Paco
Em Madri, no ano de 1919, por recomendação do amigo e antigo mestre, Fernando de los Rios, Lorca foi aceito na Residência dos Estudantes. O local era frequentado por intelectuais, costumando receber palestrantes famosos, como H. G. Wells, Einstein, Paul Claudel, Bérgson, Paul Éluard, Louise Curie, Stravinsky e Paul Valéry.

Sair de sua cidade, deixar a casa de seus pais, ir para faculdade e fazer novos amigos, como não deixaria de ser para qualquer rapaz homossexual oprimido (mesmo nos dias atuais),  foram cruciais na vida sexual de Lorca, como mais adiante se verá.

da esquerda para a direita: Salvador Dalí, José Moreno Villa, Luis Buñuel, Federico García Lorca e José Antonio Rubio Sacristán, Madri, maio de 1926
Na famosa ‘Residência dos Estudantes’ de Madri, Lorca transforma o seu quarto em ponto de encontro de intelectuais e centro de longas reuniões de amigos, assembleias e debates literários. É lá também que conhece Salvador Dali, Rafael Alberti e Luís Buñuel, que futuramente tornar-se-iam a mais fina flor de intelectuais espanhóis.
Lorca e Dalí

Do encontro de García Lorca com Salvador Dali surgiu uma grande amizade, movida por uma forte empatia. Se Lorca era um jovem sensível, de uma alma inquieta, Dali, não lhe ficava atrás, era um homem tímido, que se vestia de forma excêntrica. Se para Dali, aparentemente, nascia uma grande e profunda amizade, para Lorca nascia algo mais, uma profunda paixão.
Lorca e Dalí

Estudantes de belas artes, direito, filosofia etc conviviam no mesmo local. A proximidade de Federico García Lorca com Salvador Dali e Luís Buñuel foi, de fato, íntima.

De acordo com o pintor, em maio de 1926, Lorca tentou manter uma relação física com ele, quis penetrá-lo, e apesar de Dali se sentir lisonjeado pelo amor do poeta, não sucumbiu aos seus desejos, já que não se considerava homossexual, o que Lorca sempre teria respeitado.
 
Na faculdade Luís Buñuel, homofóbico assumido, apesar de ser amigo próximo de Lorca, percebendo traços da homossexualidade deste, fazia terror e não perdia a oportunidade de demonstrar o quanto tinha aversão aos homossexuais. A relação de Lorca e Dali só aumentava. Ao perceber uma proximidade maior entre Federico Lorca e Salvador Dali, Buñuel não poupou esforços para contrariar e sabotar a amizade amorosa que ligava aquele a um complacente Dalí .

Num dado momento, Buñuel vai para Paris e em seguida, Dali larga Lorca em Madri e segue para cidade luz para se encontrar com Buñuel, convencido por este.

García Lorca foi vítima de depressão crescente, uma situação foi agravada pela sua angústia por conta da ocultação da sua homossexualidade de amigos e familiares. Nisso, ele foi profundamente afetado pelo sucesso de seu Romancero Gitano, o que aumentou sua fama, levando-o a dicotomia dolorosa de sua vida: ele ficou preso entre a persona do autor de sucesso, forçado a sustentar publicamente e a vida afetiva sexual, que ele só poderia manter em particular.

O estranhamento crescente entre García Lorca e seus amigos mais próximos atingiu o seu clímax quando Dalí e Buñuel realizaram no ano 1929, em Paris, o filme  Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz), marco do surrealismo no cinema. García Lorca entendeu que o título do filme era um violento ataque a ele, uma vez ser oriundo de Andaluzia.

O filme encerrou definitivamente o caso de Lorca com Dalí, ao mesmo tempo que Dalí conhecia sua futura esposa Gala. As relações só voltaram as boas tempos depois.

De qualquer forma, aquela amizade universitária do trio sofreu uma rachadura, Lorca ficou em Madri e Dalí e Buñuel em Paris.

Emilio Aladrén
Num dos estudos realizados sobre a vida amorosa de Lorca, se afirma que outra fase importante teria ocorrido em seguida, quando o poeta,  ainda apaixonado pelo Dali, se sentiu extremamente atraído pelo escultor Emilio Aladrén, que havia ingressado na Escola de Belas Artes em 1922, no mesmo ano de Salvador.  Aladrén era 08 anos mais jovem e extraordinariamente bonito, com cabelo preto, olhos grandes , rosto levemente oriental e de temperamento apaixonado.

Emílio e Federico
Diz-se que Lorca não titubeou em “roubar” Aladrén, sem remorsos, da então namorada, a pintora Maruja Mallo. Os amigos do Lorca desprezaram Aladrén como artista e pessoa, e o consideraram uma má influência para o poeta.  Lorca vestia e levava as festas Aladrén, apresentando-o como promissor escultor, o que teria chegado a levar a cenas de ciúmes com outros amigos.

Essa relação, digamos frágil e aparentemente interesseira, não se sustentou quando uma jovem inglesa, Dove Eleanor, chegou a Madri como representante da empresa Elizabeth Arden, causando a ruptura da relação entre o poeta e o escultor, levando Lorca a ter uma profunda depressão, o que fez com que fosse para Nova York.

Rafael Rodriguez Rapun
Outra pessoa na vida de Lorca foi Rafael Rodriguez Rapun, o homem de três “R”, por quem foi extremamente atraído. Rafael era jogador de futebol, atlético e um socialista apaixonado. Não era gay, adorava mulheres gostosas, mas segundo um amigo, pelo que entendi, teria caído na rede do poeta e se envolveu de tal forma que perdeu o controle da situação.

Existiu um romance, conforme se extrai de uma carta escrita para o poeta Lorca do amado Rapun, na qual se fala das saudades e do tempo desta relação: “Eu me lembro muito de você. Deixar de ver uma pessoa que com quem se tem estado um ano, durante meses, todas as horas do dia é muito difícil esquecer. Especialmente se esta pessoa se sente tão poderosamente atraída por você como eu”.

Constata-se, ainda, que Lorca disfarçava seus afetos em seu meio social, mas não abria mão dos mesmos. Basta ver um evento no qual ele, por exemplo, recebeu de um casal de amigos que morava fora de Madri um convite para  hospedá-lo em sua casa. Tal casal, não ciente da homossexualidade do poeta,  imaginaram que Lorca fosse casado e estendeu tal convite a possível esposa. O poeta aceitou o convite, mas esclareceu que era solteiro, e não teria esposa para ser hospedada com ele, mas levaria seu secretário pessoal, Rafael Rodriguez Rapun. Enfim, aquela conhecida desculpa de secretário, primo, sobrinho de sempre...

Por fim, tem o Eduardo Rodriguez Valdivieso, o “amigo”. Catorze anos mais novo que Lorca, era alto e bonito, com olhos escuros e uma sensibilidade à flor da pele. Trabalhava num banco, amava literatura e era pobre e infeliz. Segundo Ian Gibson, conhecer e ser o amigo favorito de Lorca por cerca de um ano, foi uma das experiências fundamentais de sua vida.

Exemplo desta relação é o conteúdo de uma das setes correspondências trocadas por eles: «Recebi sua carta e respondo imediatamente, muito contente que tenha lembrado de mim, pois acreditava que já havia me esquecido. Eu, como sempre, me lembro, quero saber de você e estar contigo”.


Valdivieso foi descoberto pelo biógrafo e nega terminantemente qualquer relação amorosa, diz que foi só amizade. Mas o engraçado é que em nome da amizade, guardou durante 60 anos, atemorizado por possíveis represálias franquistas, as cartas de amor - não correspondidas - que o poeta lhe enviou quando Valdivieso tinha 20 anos de idade.

Enrique Amorim, Lorca e terceira pessoa não identificada
Um outro personagem surgiu nas pesquisas realizadas que não foi considerado pelo biografo. Trata-se do escritor uruguaio Enrique Amorim, que afirma ter tido uma relação amorosa com o poeta.  De fato, Amorim foi amigo de importantes artistas do século 20, de Picasso a Walt Disney. Mas era um grande ‘mentiroso’ e chegou a inventar uma ossada como sendo de Lorca, apenas para chamar atenção da mídia.

Não tenho como deixar de observar que todos os personagens que Federico Lorca se relacionou eram homens envolvidos com mulheres e que se sentiam atraídos sexualmente pelo sexo oposto. O único que não se casou, nem para "manter as aparências", foi ele.  Garcia Lorca também parecia ter inclinações por homens bem mais jovens, levando em conta que Aladrén era 08 anos mais novo e Valdivieso, ainda mais, 14 anos de diferença.

Para não ficar sem pé ou cabeça, cumpre ainda dizer sobre a vida de Lorca que através de sua poesia, identificou-se com os mouros, judeus, negros e ciganos, alvos de perseguições ao longo da história de sua região. Ele próprio sentiu na pele a discriminação com que os espanhóis da época trataram sua condição de homossexual. Jamais deixou de manifestar aversão aos fascistas e aos militares franquistas.

Entre os textos transgressivos estaria, igualmente, Thamar e Amnón, poema que encerra o Romanceiro Gitano. Baseia-se em um episódio bíblico, a história de um amor entre irmãos, descrita de um modo tão lírico que acaba sendo a apologia do incesto. Pode ser uma metáfora da sua homossexualidade, de seus amores proibidos.

Em 1934, Federico García Lorca já era o mais famoso poeta e dramaturgo espanhol vivo. No dia 19 de agosto de 1936, no auge de sua produção intelectual, foi fuzilado em Granada, aos 38 anos de idade, por militantes franquistas no início da Guerra Civil Espanhola.

E no seu fuzilamento, mesmo que por razões políticas, não deixou de existir a 'cereja do bolo' da homofobia.  Isto porque, segundo o principal  biografo de Lorca, Gibson, um dos assassinos que o executou teria se vangloriado, em Granada, por ter-lhe dado dois tiros "por el culo, por maricón".

A ditadura de Francisco Franco que se seguiu à Guerra Civil (1936-39) censurou por muito tempo sua obra e reprimiu os homossexuais.

Não há como não falar da sua biografia feita por Ian Gibson, aqui no Brasil com título modificado, se chama “Federico García Lorca, uma Biografia”, editora Globo, com tradução de Augusto Klein.  Ignorada por muito tempo, evitada e até marginalizada, a homossexualidade do poeta espanhol Federico Garcia Lorca foi motivo de um estudo aprofundado por parte do biógrafo irlandês.

Nesta biografia, a mais completa que já se produziu sobre ele, alguns mitos são quebrados.

Segundo Ian Gibson " no que toca às circunstâncias da morte de Lorca, o quadro geral é agora claro. No entanto, não se pode dizer o mesmo quando a sua vida privada. Entre os amigos (e a família) do poeta houve sempre uma profunda relutância em comentar ou sequer admitir seu homossexualismo, e uma deficiência desta biografia, se comparada, por exemplo, com a vida de Forster escrita por P. N. Furbank, é que foi simplesmente impossível formar mais que uma visão rudimentar, pelos padrões e europeus ou americanos, desse aspecto essencial da existência de Lorca. Somente uma ou duas cartas ao adorado Salvador Dalí vieram à luz (por sorte temos as do pintor para ele); quase nada se sabe da sua apaixonada relação com o escultor Emilio Aladrén, que morreu em 1942 - salvo o fato de ter sido apaixonada; e poucos dados existem do seu profundo envolvimento com Rafael Rodríguez Rapún, morto durante a guerra." (...).

Numa entrevista concedida pelo biográfo, foi perguntado: “E oficialmente, quais os motivos para prisão de Lorca, quais foram os motivos da denúncia?” e a resposta de Gibson foi:

Que Lorca tinha uma obra subversiva, perigosa, que era amigo de Fernando de los Rios, — ministro socialista —, que era homossexual, e que tinha uma rádio clandestina... era um momento no qual se acreditava em tudo, uma denúncia dessas já bastava para ir ao “paredão”. É preciso imaginar aquele momento, a direita organizou um motim e poderia perder a qualquer momento. Os franquistas já vinham com um plano de matar pessoas e Lorca era um inimigo, não há a menor dúvida de que Lorca era um dos principais inimigos e além disso “rojo, maricón” e famoso.”

Outras biografias surgiram que ajudam a entender melhor este enredo e a história de  personagens que eram próximos de Federico Garcia Lorca. Por exemplo, sempre totalmente ocultada homossexualidade de Salvador Dalí a mesma foi revelada em detalhes pelo colombiano Carlos Lozano, amigo íntimo do pintor, ao escritor britânico Clifford Thurlow, que publicou na Espanha o livro Sexo, Surrealismo, Dalí e Eu. Thurlow descreve pela primeira vez os capítulos mais íntimos da vida privada do pintor a partir do testemunho do pintor e bailarino colombiano Carlos Lozano, que conhecera Dalí em 1969, em Paris.

Segundo Lozano, falecido após revisar originais do livro em inglês, Dalí viveu atormentado por uma homossexualidade sempre ocultada. A obra é resultado de centenas de horas de conversações com Lozano. Em seus relatos, Lozano revive as festas "mais loucas e inacreditáveis" oferecidas por Dalí. O tormento do artista por sua "oculta homossexualidade" tem seu reflexo na vida e na obra do pintor, impregnada de sexo.

Escrito em 1982, quando estava com 82 anos, Buñuel escreveu o livro “Meu último suspiro” onde traz divertidas histórias das relações entre Buñuel e seus companheiros surrealistas, suas diversas brigas com Salvador Dali, a quem sempre acusou de egocêntrico, ou com Garcia Lorca, a respeito de sua homossexualidade, além de todas as dificuldades encontradas nas produções de seus filmes, as revoltas contra alguns deles, como o polêmico “A idade do Ouro” ou seu exílio nos Estados Unidos e sua longa vida na Cidade do México, cidade onde realizou a maioria de seus filmes e faleceu em 29 de Julho de 1983.

No livro de Salvador Dali, A Vida Secreta de Salvador Dali, o mesmo  sugere que o conflito com Buñuel tenha se originado por conta das posições políticas, incompatíveis com as de Dalí.

O livro de Dalí teve consequências. Buñuel foi descrito como um ateu, uma ‘acusação’ que na época era pior do que ser chamado de comunista. Gerou uma espécie de “escândalo” e  protestos por sua presença nos EUA junto ao governo, por conta disto, ficou desempregado do Museu no qual trabalhava nos EUA.

Javier Beltran e Robert Pattinson / Frederico Garcia Lorca e Salvador Dali  

A vida destes três, tendo como personagem central o Federico García Lorca é, inquestionavelmente, interessantíssima. Rica em fatos e detalhes fidedignos porque foram três celebridades que tiveram sempre a atenção não só da mídia, mas também política. Nota-se, inclusive, que mesmo se tratando de um período que não existia tecnologia ou fotografia instantânea, são fartas as fotos existentes.

Também não à toa foram retratados algumas vezes no cinema, como o 'O desaparecimento de Garcia Lorca' (Muerte en Granada) de Marcos Zurinaga ou 'Meia Noite Em Paris' (Midnight in Paris) de Woody Allen, mas merece destaque, em especial, o filme Poucas cinzas (Little ashes, 2008), uma produção EUA/Espanha que conta parte da história antes aqui descrita. O filme vale muito a pena ser assistido, sugiro que vá a locadora e assistam.

Nesta cena do filme abaixo mostra o primeiro beijo entre Salvador Dali (Robert Pattinson) e Frederico Garcia Lorca (Javier Beltran). O beijo acontece na marca de 1:43:




Existe um documentário que ainda não assisti, "Lorca, el Mar Deja de Moverse" que parece se tratar de algo imperdível, que veio aumentar todo o imbróglio que envolve o poeta: coloca em foco sua família e morte. Segundo este documentário, o fuzilamento do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936) no começo da Guerra Civil espanhola teve a influência de desavenças familiares e aconteceu não apenas pelas suas idéias republicanas e sua condição de homossexual.

O filme, dirigido por Emilio Ruiz Barrachina, sustenta que os primos do escritor por parte da família Roldán instigaram a detenção e o assassinato de Lorca. "Isso era um boato entre os mais velhos de Valderrubios e Fuentevaqueros [povoados da região espanhola de Granada, ao sul do país]", disse Ruiz Barrachina. O diretor afirmou que seu filme se baseia em novos documentos que abordam as circunstâncias da morte.

O filme se baseia na constatação de que, desde o século 19, as famílias García Rodríguez (do pai do poeta), Roldán e Alba dominavam a Vega de Granada, região onde Lorca nasceu em 1898, e mantinham velhas divergências.

Entre as origens dos desentendimentos estão as distribuições de terras compradas em sociedade, a homofobia e as diferentes tendências e ambições políticas no início da Guerra Civil, já que os Lorca eram republicanos e os Roldán partidários do movimento conservador Ação Popular.

Tais circunstâncias se agravaram quando García Lorca publicou em 1936 "A Casa de Bernarda Alba", obra na qual, segundo Barrachina, o poeta destila seu veneno contra as famílias brigadas, em uma espécie de "vingança pessoal". Com o golpe militar de 1936 que deu o início à guerra, essas pessoas aproveitaram "para acertar contas pessoais", segundo Barrachina.

Todas essas revelações estão documentadas no filme, inclusive a de que José Luis Trescastro Medina, um dos autores materiais do assassinato, era o marido de uma prima distante do pai do poeta.

"Foi quem, depois do assassinato, contou que havia introduzido duas balas no ânus de Lorca pela sua homossexualidade", disse Ian Gibson, um dos historiadores que investigou o episódio mais profundamente.

Segundo o filme, após o golpe de Estado de Franco, o governador militar de Granada encarregou os Roldán da formação de esquadras negras para dizimar a população da região, e os primos de García Lorca aproveitaram a circunstância para matar o poeta.

Homofobia

O documentário considera ainda que a homofobia no ambiente político foi uma "das causas da morte" do autor de "Poeta em Nova York". "Sempre se tentou esconder sua homossexualidade, inclusive pessoas da esquerda, já que um mártir de esquerda não podia ser homossexual", diz o cineasta.

Nessas circunstâncias, e após retornar de Madri para Granada, Lorca foi aprisionado na casa da família de Luís Rosales e levado à noite para um lugar entre os municípios granadinos de Víznar e Alfacar, onde as chamadas "esquadras negras" o assassinaram.

"A família de Lorca está tão surpresa quanto nós", afirmam os autores do documentário. No filme, os parentes justificam os 70 anos de silêncio sobre a morte do poeta dizendo que o assunto é um tabu para eles.

Com mais de uma hora e meia de duração, "Lorca, El Mar Deja de Moverse", título extraído de um verso do próprio poeta, traz 25 depoimentos. Quero muito ver este documentário!



Lorca, por ser homossexual, inteligente e influente faz diferença até hoje.

Fica claro isto, especialmente com a resposta dada a uma mulher que pergunta a razão de sua prisão, quando então respondem: "Suas obras". Em seguida, acrescentam à acusação:


"Ele fez mais dano com a caneta que outros fizeram com a arma.".

Essa frase ficou eternizada.

Dedico hoje esta frase aos pejorativamente chamados de 'militantes de teclados' dentro do movimento social. 


domingo, 24 de junho de 2012

Em nome do amor




União entre pessoas do mesmo sexo

  Niankhkhnum e Khnumhotep
 Há mais de 4.000 (quatro mil) anos atrás



 Rei Filipe II e Rei Ricardo I
Há quase 1.000 anos atrás


 Oscar Wilde e Lord Alfred Douglas
Há mais de 120 anos atrás




André Piva e Carlos Tufvesson
Há menos de 01 ano atrás



Quantos anos ainda serão necessários para que se respeite, de verdade, estas pessoas?

Em nome do amor...


quinta-feira, 21 de junho de 2012

The Irrepressibles


Cultura é importante e faz bem. Através da arte se pode muito.

The  Irrepressibles é uma banda com dez membros liderada pelo compositor e músico Jamie McDermott. O vídeo abaixo foi dirigido por Roy Raz.

O filme apresenta um casal de lésbicas tatuadas, uma partida de tênis envolvendo carne (ou algo assim), dois rapazes com roupas íntimas, uma senhora num piano e uma turma de homens que lava um carro com esponja.

Este curta-metragem ‘The Lady Is Dead’ foi dirigido por Roy Raz e engloba um pouco de tudo; arte, moda, muita música e humor. The Irrepressibles é apaixonante e a trilha impressionante. A canção e o filme criam uma sinergia perfeita. 

É mental e sensorialmente provocante.

Ouça "In this shirt", no vídeo de Roy Raz para a trilha sonora de 'The Lady is Dead'., vale a pena:




O último vídeo do mesmo grupo não é menos instigante.

É intitulado por "ARROW" com performance dos modelos Theo Stacey and Jordan Hunt.

Nele o que se vê são dois homens nús, onde o corpo é exaltado tanto quanto os sentimentos que envolvem os dois.

Não dá pra saber se no clipe acontece uma disputa de força ou uma absurda necessidade de contato e a prova que isso não mata. As feições de força se misturam com desejo pela mordida e as curvas. Um clipe lindo se de ver. 

Polêmica, fotografia impecável e uma voz tocante:



No final, restam sensações mexidas, nem sempre claras, mas sem dúvida construtivas.

A foto de Lula com Maluf, por Merval Pereira


Merval Pereira, O Globo

A foto que incomodou Luiza Erundina e chocou o país, do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf para fechar um acordo político de apoio ao candidato petista à prefeitura paulistana (o nome dele pouco importa a essa altura), é simbólica de um momento muito especial da infalibilidade política de Lula.

Sua obsessão pela vitória em São Paulo é tamanha que ele não está mais evitando riscos de contaminação como o que está assumindo com o malufismo, certo de que tudo pode para manter ou ampliar o seu poder político.

O choque causado por esse movimento radical pouco importará se a vitória vier em outubro. Mas se sobrevier uma derrota, a foto nos jardins da mansão daquele que não pode sair do país porque está na lista dos mais procurados pela Interpol será a marca da decadência política de Lula, que estará então encerrando um largo ciclo político em que foi considerado insuperável na estratégia eleitoral.

Até o momento, as alianças políticas com Maluf eram feitas por baixo dos panos, de maneira envergonhada, como a negociação em que o PSDB paulista fechava um acordo com o PP em busca de seu 1m30s de tempo de propaganda eleitoral.

A própria Erundina disse, candidamente, que o que a incomodara foi o excesso de exposição do acordo partidário.

Maluf, do seu ponto de vista, agiu com a esperteza que sempre o caracterizou, mas com requintes de crueldade.

Ao exigir que Lula fosse à sua casa para selar o acordo, e chamar a imprensa para registrar o momento glorioso para ele e infame para grande parte dos petistas, ele estava se aproveitando da fragilidade momentânea do PT, que tem um candidato desconhecido que precisa ser exposto ao eleitorado para tentar se eleger.

Lula, como se esse fosse o último reduto eleitoral que lhe falta controlar, está fazendo qualquer negócio para viabilizar a candidatura que inventou.

Já se entregara ao PSD do prefeito Gilberto Kassab, provocando um racha no PT talvez tão grande quanto o de agora, e acabou levando uma rasteira que já prenunciava que talvez o rei estivesse nu.

Agora, quem lhe deu a rasteira foi uma dupla irreconciliável, que Lula tentou colocar no mesmo saco sem nem ao menos ter se dado ao trabalho de conversar antes: Luiza Erundina, que um dia foi afastada do PT por ter aceitado um ministério no governo de coalizão nacional de Itamar Franco, agora se afasta do PT malufista.

E Maluf, que vinha minguando como força política, viu a possibilidade de recuperar a importância estratégica em São Paulo no pouco mais de um minuto de televisão que o PP detém por força de lei.

A sucessão de erros políticos que Lula parece vir cometendo nos últimos meses — a escolha de Haddad, o encontro com Gilmar Mendes, a CPI do Cachoeira, o acordo com Maluf — só será superada se acontecer o que hoje parece improvável, uma vitória de Fernando Haddad.

No resto do país, o PT está submetendo os aliados a seus interesses paulistas, fazendo acordos diversos para garantir em São Paulo uma aliança viável.

A foto de Lula confraternizando com Maluf tem mais um aspecto terrível para a biografia do ex-presidente: ela explicita uma maneira de fazer política que não tem barreiras morais e contagiou toda a política partidária, deteriorando o que já era podre.

As alianças políticas entre Lula, José Sarney, Fernando Collor e Maluf colocam no mesmo barco políticos que já estiveram em posições antagônicas fazendo a História do Brasil, e hoje fazem uma farsa histórica.

Em 1989, José Sarney era presidente da República depois de ter enfrentado Paulo Maluf no PDS. Ante uma previsível vitória do grupo de Maluf derrotando o de Mario Andreazza, Sarney rompeu com partido que presidia, ajudou a fundar a Frente Liberal (PFL) e foi vice de chapa de Tancredo.

Na campanha presidencial da sucessão de Sarney, Lula disse o seguinte dos hoje aliados Sarney e Maluf: “A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente era o militar que vinha na TV e falava, e hoje o militar não precisa mais falar porque o Sarney fala pelos militares e os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente se dizia que o Adhemar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrão (sic), mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz”.

Na mesma campanha, Collor não deixou por menos: chamou o então presidente Sarney de “corrupto, incompetente e safado”.

Durante a campanha das Diretas Já ,Lula se referiu assim a Maluf: “O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente”.

Maluf e Collor tinham a mesma opinião sobre o PT até recentemente. Em 2005, quando Maluf foi preso e Lula festejou, e recebeu a seguinte resposta: “(..) se ele quiser realmente começar a prender os culpados comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria é do partido dele, do PT".

Já em 2006, em plena campanha presidencial marcada pelo mensalão, Collor disse que foi vítima de um “golpe parlamentar”, do qual teriam participado José Genoino e José Dirceu, “enterrados até o pescoço no maior assalto aos cofres públicos já praticado nessa nação”.

E garantiu: “Quadrilha quem montou foi ele (Lula)”, citando ainda Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Paulo Okamotto, Duda Mendonça, Jorge Mattoso e Fábio Luiz Lula da Silva, o filho do presidente.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio +20: Mundial Sede de Protestos



Até o momento a única questão no Rio +20 envolvendo indiretamente  Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros foi uma manifestação pública em protesto a desagradável presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na cidade.

Ahmadinejad veio ao Rio de Janeiro acompanhado do ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, o vice-presidente executivo de Relações Exteriores, Hamid Baqaei, e o vice-presidente para Assuntos Internacionais, Ali Sa’eedlou e sabe-se, aproveitou para pedir agenda com a Presidenta Dilma, que embora ainda não tenha anunciado a resposta, faz parte de uma política partidária que é amistosa àquele governo.

O movimento LGBT pegou carona com a comunidade judaica, liderada pelo Michel Gherman que questionou a presença do presidente do Irã ao evento: “— Queremos aproveitar a visita dele para apontar a contradição entre o discurso do ódio que ele prega e o discurso ecológico. Negar o holocausto e perseguir homossexuais não pode ser um discurso sustentável” — afirmou.

A vereadora Teresa Bergher (PSDB), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio, também presente a passeata, irá propor que Ahmadinejad se torne “persona non grata” na capital.

O superintendente da SUPERDIR, Claudio Nascimento, membro da Secretaria de Assistência do Social do governo do estado do Rio de Janeiro, também foi protestar contra o presidente do Irã e segundo noticiado no ‘site terra’ afirmou ser “importante estar presente na manifestação e reclamou que a agenda da Rio+20 não inclua o assunto direitos humanos na pauta de negociação”.

Mas se de um lado, temos na cidade a presença do Mahmoud Ahmadinejad, por outro, integra também o Rio +20 a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay.

A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU veio oficialmente a cidade para o Rio +20 pelos Direitos Humanos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que será acordado pelos presidentes: “Os instrumentos de aplicação, o empoderamento das mulheres e meninas, os direitos sexuais e de gênero, o papel dos Governos em garantir os Direitos Humanos são alguns dos temas essenciais, que devem ter papel central nos ODS. Enviei uma carta a todos os países do mundo para que coloquem as pessoas no centro das políticas do Desenvolvimento Sustentável”. Pillay está tendo bastante dificuldade até o momento nas negociações iniciais. 

A cidade do Rio de Janeiro está em polvorosa. Nunca vi tantos índios transitando pela cidade e nem tantas manifestações da sociedade civil que salpicam em pontos e momentos diferentes, como dos próprios índios contra o impacto do garimpo e da construção de barragens em terras indígenas; a marcha das mulheres; protesto contra o presidente do Irã por judeus, gays e religiosos; protesto do movimento sem terra; protesto dos jovens contra a presidenta Dilma; protesto dos ambientalistas em defesa à natureza; ato contra militares que participaram da ditadura; Marcha da Maconha, pedindo por mudanças na legislação da política de drogas do país; protestos das panteras iradas contra a economia verde e etc. Para amanhã os jornais já estão oficialmente noticiando três novos protestos, mas não informam quais serão as motivações. De qualquer forma, ainda teremos 50 comitivas de países diferentes transitando pela cidade e interditando ruas que se somarão aos protestos que paralisam a cidade.

Com tantas autoridades e protestos, se locomover no Rio de Janeiro, sem batedores, está “insustentável”, um caos. Só mesmo pela ânsia da defesa das questões sociais e ambientais.
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